Anderson Piva
Quase
“Uma coisa é um grande discurso,
outra coisa um grande amor”
(Sto. Agostinho)
O amor nasce velho em qualquer coração;
é fruto tardio
de ancestralidades feridas,
de descompassos hereditários,
do choro antigo das várias gerações,
resultado inebriante
dessa magia de converter lágrimas
numa quase-cachaça.
Todo amor nasce marcado
de lutas recentes, mas findas;
soldado conhecedor de cada canto
do seu campo de batalha,
dos requintes militares,
dos artifícios bélicos
da marcial arte de amar;
discípulo virado em mestre,
professor da triste ciência
de tornar sangue
num quase-veneno.
Todo amor nasce maduro.
Superada a longa seca,
a intempérie,
eis que surge indene
com a esperança perene
de uma vida
que é quase-renúncia.
Todo amor nasce morto,
já vivido, já cantado,
já doído, já amado.
Todo amor nasce duro,
escudo
de ancião experimentado,
que esconde um quase-menino
indefeso.
Todo amor nasce quase;
e se é todo, não o é.
Todo amor nasce pedra
perpétua, e perdura
na solidez de um silêncio
que é quase confissão.
Imagem: Costa Ellos
Estou lendo, desde ontem, este poema, sem poder concordar.
ResponderExcluirQuase me atrevo a escrever outro, em contestação (ai, ai, a suprema vaidade!).
Lembrei-me de Pe. Vieira que disse, em um sermão, que p amor é um menino que nunca envelhece, pois morre antes.
Não sei, mas esta visão me parece pior ainda que o amor velho...
De qualquer forma, é belíssimo:
"converter lágrimas
numa quase cachaça"
Que visão mais real do amor!
Adorei.
beijos