Aila Magalhães




Poema para ninguém

Persiste-me o segredo
de um feito antigo.
- verdade ou mito?
(nem sei ao certo, admito)

Pelo sim e pelo não,
mantenho um nome
bem guardado, envolvido
em papel celofane
de um encarnado esmaecido,
embora vivo, ainda vivo.

Pelo não, pelo talvez,
repasso lençóis de seda
e a ferro quente,
marco a ponta de um momento,
dobrando no peito uma saudade incerta

nesse silêncio,
nessa noite quase infinita
encarcerada entre o algum dia ou nunca
um quase grito:
Você, maldito!


Imagem:
Sergej Lopatin

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