Nilson José Ribeiro





Impressão

Tens a cor mais límpida e real
e a luminosidade calma das manhãs de primavera
Eu carrego na alma a explosão boreal
e a densidade rubra das tardes de inverno
Tens nos pés as estradas, os caminhos, o destino
Tenho asas densas e mergulho cego num vôo sem rumo
caio, levanto, bato o pó e me aprumo-
És música cristalina, o som puro, melodia solta ao vento
Sou o tempo, semifusa, o contratempo
Tu, a beleza límpida e afinadíssima da voz de soprano
Sou Mozart ao piano.
És da noite as estrelas iluminadas no céu enluarado
Sou cometa incandescente e alucinado
atravessando veloz, incendiando a paisagem
És postal. Sou miragem.
Tens a força da terra
a suavidade da vinha, a tez da uva
Sou vento que te remexe, vendaval,
e, depois, o carinho precioso da abençoada chuva.
És paisagem a céu aberto,
montanhas, água, brisa, vela
Sou Van Gogh escancarado na tela.
És o riacho que mata a sede
Sou a cascata incontrolável
És descanso, a paz, o sono, a rede
Sou o desejo inadiável
És o calor que alenta os viajantes
Sou a brasa que arde em seu fogo ruivo
Encantas com a voz de mil pássaros cantantes
Eu uivo.
És, inteira,
parte de mim que se perdeu.
Sou, assim dividido,
definitivamente
inteiro teu.


Imagem: Novic Ahenikeyev

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