André Aquino




Em Construção

Ela anda pela rua distraída
Não sabe que lá fora está perdida
Que não importa para onde vá
Já não existe mais saída.

Mora com um homem sabido
Que pensa que sabe tudo
Mas também está perdido
Quando ela pergunta, ele fica mudo.

Eles têm um filho de madeira
Para combinar com a mobília da sala
Ele chora porque quer mamadeira
Mas nem todo dia é sexta-feira

Eles têm uma filha de pano
Que corre pela casa o dia inteiro
Mas ela nunca fez parte de nenhum plano
Deveria ter escorrido junto com a água pelo ralo
E depois pelo cano

O amor deles é feito de papel
Ela parece ser inocente
Uma mulher como outra qualquer
Sem passado, sem futuro, vivendo no presente
Distante anos-luz da realidade.

Todos estão sempre cansados
Ele gosta de garotas mais novas
Como todos homens casados
Não se importa em ser ridículo
Querem apenas se sentir longe
Da sua morte e das suas covas.

As páginas continuam a ser viradas
Vidas perdidas e corações partidos
A história não tem fim
Está sempre em construção




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