Lucinda Persona
MODO VELHO DE ACORDAR
De repente
num modo velho de acordar
abro a úmida casca noturna.
Sou folha? Inseto? Passarinho ou gente?
Que dia é hoje? Que horas são?
Onde está o homem que dorme comigo?
No meio das suposições
minhas pálpebras amarfanhadas
são peso e desproporção,
minhas córneas não entendem.
Dói, na penumbra, o reajuste dos meus ossos.
Dói a bexiga que tem rígido horário.
Dói o cotidiano no meu caminho.
(Do livro: Ser Cotidiano, 1998)
Imagem: Roland Heyder
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