Amor e Flotax







O que se fala vai embora logo. Se esquece.
O que pode ficar é a mágoa da desfeita ou a vaidade do elogio o que - convenhamos - são coisas perfeitamente inúteis. Pra quem já não tem muita coisa à dizer eu me acabo nas letras onde desabafo alguma coisa, mas enfrento outros riscos. Podem não gostar do que escrevo ou como eu o faço, mas aí, well, já não me importo.

Não tenho mais saco para elaborar textos com estilo pessoal e (muito menos) exigir brilhantismo literário de garranchos. De certa maneira consola-me ver que pelas livrarias nada mais existe para ler a não ser longos embustes emocionais falando de uma "vida melhor" e que toda a felicidade reside em potencialidade$ das quais voce não tinha o menor conhecimento - como somos burros, não? Qualquer um escreve qualquer coisa e corre-se o risco de se tornar uma celebridade. Íntimamente Paulo Coelho deve estar perplexo até hoje com o próprio sucesso.

Prefiro letras como tiros e frases como rajadas. Certamente não faço alegorias de violência ao mar de sangue que corre pelas ruas. Falo da rapidez e da dor filha-de-uma-puta em minhas costas. Posso também falar de algo pueril como a inexistência do "amor". Seria tomado como herege. Afinal, é alenta-dor (escrita proposital) acreditar que o "amor" existe. Que tudo é apenas "arte do encontro". Uma hora dessas a gente esbarra com ele por aí, não é mesmo?

Pois bem, longe de mim desmentir sentimentos pelos quais tanta gente vive correndo atrás e tantas outras acham que já encontraram. Não estão errados os que precisam de tais perspectivas para viverem suas vidas, mas daí o "amor" ser um fato é algo ricamente discutível. O que acredito é que algo começou a centenas de anos atrás em algum bistrô da Áustria (e rendeu belíssimas canções heruditas) e teve continuidade nas letras italianas embaladas sob a luz de candelabros. Depois disto todo mundo canta e cantou o "amor" como algo que supre todas as carências humanas ou mata mais do que carrapaticida Collosus. Quando não, o que imaginamos é que "amor", quando chega, tudo fica perfeito, celestial, divino-maravilhoso. Se isto não aconteceu e não tem acontecido na vida de ninguém, como podemos conviver com um conceito tão equivocado desse sentimento? Temos medo de assumir a inexistência de um mito? Um rito? Um padrão?

Bom, veremos se a puta-dor-nas-costas deixará que eu continue. Afinal, eu encerrei o texto em um momento delicado de alguém em estado de pura solidão e martírio, e o mundo não acaba aqui. Nem o "amor".
Vou tomar um Flotax.
Aliás, eu amo esse remédio.



*Ilustração: Steven Meisel
*Texto: Léo Scartezzine



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