Henrique Cartaxo
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Sigo na querela do amor sobre o ódio, da bondade sobre a violência. O que procuro é um jeito decente de viver, mesmo no meio de tanta indecência. Um jeito de manter-me íntegro em meios corruptos, simplesmente porque é assim que durmo tranquilo à noite: tendo feito minha parte, tal qual o passarinho no incêndio da floresta.
Noto, com tristeza, que respondendo sempre de maneira positiva, mesmo às atrocidades, acabo por guardar em mim certa dose de violência. Tenho medo de acabar descontando, covardemente, em algum elo mais fraco. Gostaria de converter a violência em algum tipo de força realizadora. Me sinto longe disso e por muita vezes tenho vontade de distribuir por aí grosserias quaisquer.
Uma outra constatação cruel é que pessoas ao meu redor, cientes da minha disposição para a bondade, começam a se aproveitar mais do que deveriam. E muitas vezes atitudes nobres fazem-me sentir o otário da vez. Mas esta constatação é muito fácil de fazer.
Ouve-se bastante por aí: "só eu faço as coisas", "sempre sobra pra mim", "se não fosse eu..." e muitos similares. Este raciocínio, na maiora das vezes, é raso e infeliz. É muito fácil perceber o que você faz pelos outros, mas é necessário aprender a ver o quanto você usufrui das outras pessoas, o quanto elas fazem por você e quanto sua felicidade pode depender delas.
Não, eu não sou iluminado a este ponto, mas me esforço para não me pensar ultrajado quando estou simplesmente fazendo um gesto de amor.
Imagem: Andre Viegas
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