Juan Liscano





SITUAÇÃO

Fez-se tarde.
A lucidez protege
da desolação.
Fez-se tarde
Para empreender a viagem
ao conhecimento libertador.
Se fez tarde.
Somos servos
dos artifícios inventados
por nós mesmos.
Servos de máquinas,
de imagens substitutivas
do mundo,
de caudais energéticos furtados
do cosmo.
Servos de máquinas,
Nos infecta o afã de poder,
a ânsia de dominar
sem o mérito.
No entanto... às vezes...
ouvimos chamadas truncadas,
Sobrevém a nostalgia inexplicável
do perdido sem haver tido,
do nunca vivido.
A multiplicidade afoga.
Pertencemos à multidão,
ao relativo, ao virtual,
ao ilusório.
No entanto...
escutamos, de repente,
fluir em nós o manancial secreto,
respiramos um súbito perfume,
percebemos, olhando as ondas,
a forças de alçar-se, de romper
e voltar a levantar-se intacto.
Buscar a pedra ardente,
seguir a árvore caminhante,
cantar as torres do vento
saturando-se de ramos pendentes!
Mas,
já não será tarde demais?



Imagem: Malcom Parr


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