Alcides Buss
SABER NÃO SABER
Sabemos um pouco
de tudo. Por exemplo,
que a Terra baila
no espaço. Não sabemos,
porém da inspiração
que permeia os pássaros.
Sabemos que dois e dois
são quatro. Não sabemos,
entanto, em que lugar
do corpo se esconde
o que quase somos.
Sabemos de sementes,
planetas à espera
de um sulco, de uma voz
— em órbitas de lábios
transparentes.
Não sabemos, porém,
dos labirintos do sopro
que, dentro delas,
engravida
o silêncio.
Sabemos que cães
não são gatos, nem canários
são pintassilgos.
Não sabemos, no entanto,
porque de seus olhos
emanam esses cristais
onde nos vemos todos
no fundo tão iguais e
necessários uns aos outros.
Sabemos de onde vem
o silvo da serpente
na memória.
Não sabemos, porém,
pra onde vai
essa
que nos devora.
Imagem: Sergio Bocchiuzzo
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