Antonio Carlos Osório
CATARSE
Não haja desabafos
que os não contenha o verso.
Guarde e tumule
convertendo-as em silêncio e em lavor
as cinzas das dores do mundo
que penetram os olhos, a boca acerba, os ouvidos
e os poros todos do poeta.
Há que sufoca-las e reacende-las
na lareira rediviva rubra
do canto
(ritmo ácido corroendo
(papel e coração).
Não haja desabafos
nem confissões nem blasfêmias.
Guarde o escrínio
apenas a árdua essência
já depurada da fragrância amarga
do ato de existir.
E brote um cristal o verso
(da lágrima apenas a forma)
com a pureza fria da água da montanha
a cair na estrada esquecida já de seus caminhos
e por isso apta à sede de todos os andantes.
Photo: Rudy Bchovat
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